quarta-feira, 4 de julho de 2012

segunda-feira, 2 de julho de 2012

A menina e o Tempo


- Ah! – exclamava a menina – coisa mesmo muito difícil é adultescer. Eu nem gosto! – E voltava-se para sua arara de vestidos.

- Mas... – tentava argumentar o velho senhor.

A menina emburrada continuava, sem deixá-lo prosseguir:

- Eu aqui entre meus vestidos de asas de borboletas e vem o senhor, com essa barba branca e essa proposta. Veja só!

- Estou tentando mostrar o que virá depois, menina teimosa.  Pode se virar para que eu te mostre?

Ela olhava de relance, imaginando o que aquele velho senhor paciente poderia usar para tentar convencê-la, mas não, não queria ver!

O Tempo, olhos cansados, pés calejados mas firmes no chão, não sairia dali. Parecia que, às vezes, quando ela voltava seu olhar a ele, ele também era um moço jovem e bonito, elegante em seu terno bem cortado, mas... que insistente! Não arredava pé. Não desistiria?

- O que você tem para me mostrar? Eu duvido, duvidozinho muito bem duvidado, que é mais bonito que esse vestido aqui ó, que minha mãe fez para mim, cheios de pólen de flores silvestres na barra da saia.

- Filhinha, tudo isso que você tem aí é sim, muito bonito. Mas repare bem, esses vestidos estão ficando curtos. O que você vestirá daqui a algum tempo? Nada te servirá. Estou te mostrando que, na próxima curva da vida, estão outras coisas com que vestir a alma.

- Hum... e o que é? – Já parecia algo interessada, de soslaio prestando atenção, e com a mãozinha direita ainda segurando firme as barras de três ou quatro vestidos.

- Adultesça. E expanda sua alma com borboletas bordadas nela mesma. Jogue o pólen da flor que você colherá no campo sobre os seus cabelos. Costure seus próprios vestidos com o tecido de cada vivência e o alinhavo da maturidade. Mas para isso, solte sua infância e vá. É preciso tecer seu manto. Isso parece dar muito trabalho, mas logo à frente você verá como fica linda uma colcha de retalhos feita por suas mãos. Você poderá usá-la para se aquecer ou emprestar a quem quiser – e, quem sabe irá até, daqui a algum tempo, costurar belos vestidos para pequenas menininhas teimosas assim como você!...

Via-se a mãozinha da menina soltar lentamente os vestidos e enquanto o velho-senhor-jovem lhe falava, cada vez mais confiante e menos temerosa ela ia ao seu lado, por um caminho que até hoje não se sabe onde chegou.  Mas dizem por aí que certos bordados e tecidos vistos cobrindo algumas pequenas crianças foram trabalhados na ternura e delicadeza daquelas mãos.